Erro Honesto

Rejeitada e exposta
De dentro pra fora
Uma estranha no ninho
Um peixe fora d'água

Lágrimas
Soluços
Dor
Abuso

Incompreensão
Ódio
Apatia
Frieza

Ressecando
Morrendo
Sufocando
Afogando

Céu
Inferno
Vida
Morte

Caos
Calmaria
Organização
Tempestade

Silêncio absoluto.

Eles jantavam, as intenções eram claras, ele já havia saído com ela algumas vezes, ela parecia fácil, talvez tenha protelado um pouco de propósito, afinal acabara gostando da companhia da garota. Ela era pequena, pálida demais, do tipo que só veste preto e nunca ri, mas por algum motivo ela sorria com ele, talvez estivesse fingindo, o que parecia bem provável, era "ruiva" do tipo que fica quase natural quando pinta. Reparava essas pequenas coisas nela, mas no final não ia fazer diferença, ia ser só mais uma no meio da estrada, terminamos o jantar. Fomos pra algum lugar reservado, ja tinha enrolado demais, não queria dar esperanças pra ela. Repentinamente ela para no meio do quarto, tira todas as suas roupas, olha pra mim, e sorri, de um modo que eu nunca vou esquecer, ela sorria com os lábios, mas o sorriso não demonstrava felicidade, demonstrava um vazio. Então comecei a notar, pequenas cicatrizes, em todo o seu corpo, além das tatuagens, cicatrizes nos pulsos, pescoço, peito, abdômen e por toda extensão das pernas. Então ela falou:

 - Honestamente, eu não sei como o que eu vou te falar vai repercutir nas suas atitudes daqui pra frente, e pra falar bem a realidade não sei se me importo. Mas vou falar mesmo assim, se o que você quer é isso aqui, pode pegar, falando sério, isso já nem me ofende mais, tudo o que você fizer com esse pedaço de carne, eu tenho certeza que já passei por pior, e por pior que tenha sido, por mais assustador, triste e terrível, eu não sinto mais. Então aproveita e faz o teu pior pra mim, porque viver ou morrer, pra mim tanto faz.

Escutei aquela garota falar absurdos sobre si própria, e eu não sabia o que fazer a não ser chorar, chorar pelo que ela perdeu, chorar pelo que tinha acontecido a ela, esse tipo de coisa não devia acontecer, é injusto, é cruel! E eu só podia chorar. E então ela desabou, e o uivo, o choro que ela soltou, é o que ainda ecoa as minhas noites, como um animal morrendo, ferido, chorava convulsivamente e em algum ponto, a tristeza e a dor foram demais pra ela, e ela morreu, no meu apartamento, nos meus braços, por culpa de remédios que deveriam curar, por culpa de pessoas que deveriam respeitar, por culpa do ser humano que é cruel e incapaz de amar.